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Dia da crisma, minha foto preferida |
Palmares, 06 de agosto de 2011
Querida madrinha Lena,
Nem acredito que já faz um ano que você se foi. Durante esse tempo, tantas mudanças aconteceram em nossas vidas! Mas não vamos falar disso agora. Quero saber como você está. Saber também de tudo que aconteceu e faltou acontecer. O que houve com a senhora desde daquele dia tão triste? Onde exatamente você se encontra? Quais foram suas últimas palavras naquele momento onde a dor e o sufoco tomavam conta do seu corpo?
Eu sei que um pedaço te faltava desde o dia da partida de sua mãe, que também se foi sem deixar um adeus. Mas agora nós sentimos isso na pele, na mente, no coração. Me fala madrinha, quais eram seus sonhos dois anos atrás, quando tudo estava tão bem? Como foi sua juventude? Quais suas experiências mais marcantes, toda sua alegria e tristeza? Qual era a música, o filme, o livro que mais te tocava? Qual era sua comida preferida?
Lembro-me de cada momento nosso, e tenho medo de perder essas lembranças. Como na primeira vez que você me acolheu em sua casa, e ainda lhe chamava de “Dona Lena”. Ao me aproximar cada vez mais, sempre rapidamente, comecei a chamá-la de “Tia Lena”. Eu, toda enxerida, já me sentia parte da família. Aí tive meu primeiro São João na casa de vocês, Nunes. Humm! Sinto agora o gostinho daquele bolo de mandioca que só você sabe (falar no passado, às vezes, dói tanto) fazer.
Veio o segundo São João, dançamos quadrilha improvisada. Teve o aniversário de Laís, onde literalmente invadimos sua casa. Era o último aniversário de Lalinha com Dona Quitéria, pois nesse mesmo ano, quase próximo ao natal, ela partiu. Talvez por que eu não fosse tão próxima, ou nunca tivesse sentido esse sentimento de perda, madrinha, fui mais forte. Porém, ainda lembro o quanto você sofria e se culpava, seu choro tão angustiante.
Então, chegou o verão, frio e vazio, onde você foi a praia, para espairecer a mente e nós encontramos lá. Recebi sua visita e até saímos para um show. Eu iria me crismar no próximo abril e foi naquele janeiro que uma escolha feita por mim foi importantíssima em nossas, em minha vida. Decidi que você seria a minha madrinha de crisma. Anunciei que queria lhe fazer um convite no dia do seu aniversário, em 12 de fevereiro. Como não falei imediatamente o que era você ficou toda curiosa, perguntando a Laís o que seria. Foi engraçado.
Alguns dias depois, fiz o convite e sua reação foi tão bonita, você ficou tão feliz, sem acreditar, e perguntava: “Você tem certeza disso? Olhe, que uma escolher uma madrinha de crisma é de grande responsabilidade, uma decisão muito importante”. Eu não tinha dúvidas.
Chegou o dia da crisma, você veio a tarde aqui em casa, muito rapidamente, e num belo gesto me deu o Cd de Pe. Fábio de Melo e um cartão bastante especial. À noite, pedias desculpa por chegar atrasada, e a alegria nossa quando recebi a confirmação era indescritível. Você me abraçou, e voltamos para o nosso lugar com o sorriso de um canto a outro.
Dia 10 de junho de 2010, você nos visitou, mainha tinha feito um orkut para a senhora e foi engraçado quando escolhestes o nome: “Lena de Oliveira”, por causa da atriz “Luna de Oliveira”. Ai veio aquele terrível ( sem exageros) 18 de junho que mudou a vida de todos nós, lentamente, sem que percebêssemos.
Certa vez, cheguei aos prantos na sua casa porque não sabia o que fazer, por painho não ter me deixado namorar com Arnaldo. Você me abraçou, me ouviu, e me deu forças, me aconselhando (como eu queria aquele abraço novamente), e falando: “Nossa senhora de Fátima passa na frente”
Como se soubéssemos o que estava prestes a acontecer, nós aproximamos tanto nessa época. Sua ligação no dia do meu aniversário, eu sendo chamada de “anjinho”, a vez que eu levei um pedaço de lasanha e de torta de abacaxi (você me mandou “ficar na minha” nesse dia por que eu estava tentando ajuda na faxina, eu traumatizei).
E nos finais de semana anteriores ao acontecimento inesperado, e havia até dormido aí. No outro dia, painho foi me buscar e você não estava em casa, quando chegou e viu que eu tinha indo embora, ficou chateada, pensando que não tinha me dado atenção suficiente (o que não foi, não mesmo). Ainda nesse dia você fez questão de vir aqui em casa dizer para que eu nunca mais fizesse isso.
Foi no quando, dia 31 de julho de 2010, eu tinha passado ai e você reclamava do frio (por que não percebemos nada?). E eu lembro, ainda no lugar que te falei as últimas palavras pessoalmente: “Obrigada e desculpa por tudo madrinha, não vou lhe “aperriar” mais (nós sabemos o porquê, te amo”
Dia três de agosto (aniversário de Laís), uma última ligação no telefone, perguntava se estavas melhor (pois estava com dor de cabeça, no corpo inteiro, febre) e você dizia que havia melhorado um pouco. Eu reclamava que Laís andava estranha e não queria festa, nem nada e você rebatia: “Essa não é a minha Laís”. É madrinha, as outras lembranças a partir desse dia infelizmente não são as melhores.
Hoje, como falei lá no início, muita coisa mudou. Painho enfim permitiu o namoro (nossa, posso imaginar sua carinha feliz com nós duas comemorando), concluímos o ensino médio, e a vida foi mostrando nossos caminhos (e ainda mostra). Devo confessar que me decepcionei com pessoas que amo nesse meio tempo (acho que você sabe de quem falo), mas eu tento entender a cada dia, à seu exemplo, o coração de cada pessoa, e aí eu sigo em frente.
Eu sinto muito a sua falta. Saudade imensa. Foi tudo tão rápido, nossos momentos, menos de três anos. Mas são eternizados como se fossem décadas de convivência. Eu adoraria estar ao seu lado em algum lugar no futuro, mais uma vez. É um grande desejo meu.
Sua voz, seu sorriso, sua dedicação, seu amor, sua capacidade de compreender e perdoar. Um exemplo para todos, dona Helena Nunes de Oliveira. EU TE AMO MUITO, e sempre amarei.
Da sua afilhada que nunca te esquecerá,
Paula Beatriz. (Paulinha)